22.12.10

Decorei a teoria
tudo o que deve
e o que não deve ser feito
e quando... e onde!

E onde... e onde eu deixei a razão?
Para me jogar nessa jornada,
onde é preciso coragem
mas ninguém me disse nada...

Como? Por quê?

Caminho longas estradas
cruzo outras, poucos passos
são de campos a desertos
cachecóis, toucas, luvas
chinelos, sem camiseta

Companhia...
já nem assim
casa cheia, pessoas vazias
rastros, apenas de sapatos sujos.
Companheiros de jornada
camaradas de longa, longa, longa...
longa data...

21.12.10

A luz do abajur
me aponta o lápis

esfrego no papel
despencam palavras ordenadas

ou só eu as entendo
não sei...

16.12.10

Faltou um beijo...
Faltaram mil coisas, na verdade.

O medo que tenho de ti,
os mil versos que faço
para cada desses centímetros
encantadores da minha vida...

Presente divino
laço invisível
me arrasta contigo...

14.12.10

Foice

Embora caminhe
ainda dói
embora doa
ainda caminho

pelo trilho de flores
choro a partida
da mais colorida...

13.12.10

Correria

lá se foi mais um dia
um cansado derradeiro fim
de uma jornada de final de ano
o frenezi é tamanho
que o atleta sente a perna
em janeiro, talvez...

nadadores sincronizando as braçadas
fundas e nem tão firmes
acompanhando os que os acompanham
rumando para todos os lados
porque é assim e pronto

o verão que morre
depois do dia primeiro
e vive entregue
à plena ansiedade de dezembro
jorra energia

fevereiro tem folia
gasta dinheiro
vive-se feliz por aqui
eu acho...

10.12.10

Lembranças

vai-se o facho
extingue-se a luz
devagar
valendo-se dos últimos
surpiros e olhares

pela estrada escura
barulhos de insetos
friagem da noite

eu luto para manter
teu doce em mim

Futebol de Salão

jogo de dez
cinco e cinco
torcida levanta
grita e canta

dois tempos
de vinte séculos
bola veloz
chão suado
o abafamento
em função do telhado

grama de madeira
haja canela!
arranca e trava e continua
não para

É gol!
A torcida levanta
grita
haja garganta!

RECEITA CASEIRA

preciso explicar
essa coisa de trabalho
e trabalho e trabaho
saudável hábito de construir

mas quando a rotação diminui
aos poucos o corpo e a mente padecem
nem tudo é jornada, ponto, tarefas

aos poucos
até os mais vivos adoecem
o cenho se franze
mínimas formigas
não desfazendo a força dos invertebrados
partem a pele da alma

carinho hidrata
faz renascer
afeto, paixão, calor
movimentam qualquer motor...

9.12.10

o que sinto
chega a tanto
que tonteio
enxergo direito.

tá na cara
no suspiro
no suspense
no espaço
nos circunda

é tão bom...

8.12.10

Bananas de casa

Cortamos o cacho de bananas, na segunda
na terça eram verde-amareladas
hoje estão amarelo-esverdeadas
amanhã, deliciosas

mãe admirada
algumas da terra
alegram o dia
e a batata
da perna

1.12.10

Silencio

no intervalo entre o topo e o rio
que corre no fundo do vale
onde o corpo chegará em cinco
longos segundos...

messe tempo de quietude e reflexão
o derradeiro, não fosse a ficção

um silêncio sincero observando a vida que vai
e tudo o que podia ter sido
tudo o que podia ter sido amado
vislumbro a água, agora nítida
roendo a rocha, lá embaixo

neste breve momento
surge, com toda a complexidade de uma vida
a certeza de que toda a completa entrega
por mais que não seja compreendida
é o que há, o que resta, o que fica

porque a queda só para na rocha
e as flores continuam crescendo...