25.7.06

Marinheiro sem mar

Sentado na proa
mareado
mesmo estando o barco
no porto atado
lembrando das lembranças

resgatando o que não existe
ainda não
mas o gosto do presente
deixa claro e não latente
o desejo do nosso amanhã

e mais um dia se apaga no horizonte
nenhum peixe
nem marujo contente

mesmo assim
não penso em mudar de profissão
o rumo é o mesmo
o de sempre
o que Deus quiser

17/07/2006
13h42

24.7.06

A hora

O sol sobrepõe a saudade à vida
hábil e serena vai passando...
assim vai semeando o dia e os outros...
as roupas perfumadas pela pele tenra...
chegou a hora de te ver
floresce...

07/07/2006
16h43

21.7.06

Dentro de mim próprio

Hoje me arrastei prá fora de mim
busquei me agarrar pelos calcanhares
chorei na dor da despedida
senti como se fosse o fim

adentro meu próprio eu
munido de mim mesmo
subindo pelos calcanhares
habitando minha própria morada

dedos nos dedos
olhos, sentidos, ouvidos
olhares, sentimentos, sussurros...

11/07/2006
15h50

20.7.06

A noite em que não deste sinal

ontem, numa linha rápida
senti a solidão do vento gelado
nem ele me dava conversa

então o sol despede-se
o cobertor e eu repousando no frio da madrugada
um ouvido atento ao infinito...
junto com os olhos e a imaginação
o outro atento à cabeceira da cama
na companhia da esperança e da solidão
parada na porta, esperando não pernoitar

mas com ela reparti minha cama
nem os dois travesseiros me convenciam
sequer a luz do poste projetada na parede
até ela veio me ver

repouso o corpo da tensão da espera vã
agora entendo a expressão "peguei no sono"
agarrei-me a ele como a última condução
antes eu almejava a casa quente
há pouco me vinha o teu retrato me esperando

um café ou simplesmente algo bem mais essencial
tu
nem um tampouco outro
a condução me leva à manhã numa viagem sem volta
me detive ao sono
rendi-me ao descanso
depois da reza tomei a carruagem
vim parar na aurora

depois do banho
de água e de ervas
eis-me aqui

relato a solidão que é ficar mais ou menos longe
sem sentir teu perfume
sem sentir que algo querias me dizer
sentindo-me um monolingüe
numa terra de sábios

mas já é amanhã
e se o sol levanta e não pragueja
não me é de direito fazer diferente

19/07/2006
9h18

Retalho

Retalho de papel
onde a caneta não descansa
debruçando o que sinto

mão ligeira e ofegante
correndo atrás do pensamento
e ambos sempre atrás
do coração que não é retalho

07/07/2006
10h27