17.10.08

O cerco

Eu agora nem pensava em escrever... e geralmente é assim.
O cérebro quase sempre é coadjuvante, assim como as mãos... eles só participam.
Não mandam nada.
Quem quer, reclama, lateja (e irrita às vezes) é o coração mesmo...

Hoje ele indagava sobre os gestos. Aqueles que só os mortos não sentem mais. Digo a parte material de quem já foi-se. Me perguntou por quês que eu não sabia responder. tudo tem dois lados... o meu lado eu sei descrever, mas não sei contar a outra parte da história. Seria patético querer ser perfeito. Mas muito justo querer fazer de tudo por quem se ama. Não há esforço em dar a vida. É investimento fazer o impossível, mover montanhas, dar de si...

Quer saber o que é duro? O silêncio... salvo, é claro, quando o contexto pede... duro é "outro", é "eu também". É o possível ser limitado. Os monossílabos. Duro não é ter medo. Duro é quando ele sobressai-se... duro é notar que a consideraçao fica do lado de quem mal conhecemos, e não do lado de quem se ama... duro é o protocolo (que não está escrito em lugar algum)... é deixar prá quando eu não sei, daí sim pode ser que seja...

A contrapartida, segundo o próprio coração, vem dele mesmo... sabe-se água, mas luta feito fogo... renova-se a cada fagulha prá continuar tentando vincar algo mais profundo, notável, visível... já que permanecemos acima do chão, que valha a pena...

21.8.08

Revirei os CD's
LP's e reminiscências
buscava vestígios
objetos, vertigens, sinais
voltei de mãos vazias


alívio........................................................................


era a pista
que me dizia
da nova faixa
que comporíamos
e agora comporemos...
Ando não querendo te revelar
mas nunca vi palavra igual
criança na mão do pai
que segue a passo
puxando pela mão
quando vi já era tarde
ou bem na hora...

20.8.08

Respirando!

Seis meses depois estou voltando. Pode parecer simples para quem não gosta de poesia, mas nada fácil para quem tenta se expressar por meio de linhas tortas. O que explica meu desaparecimento é o fato de que não sei fazer poesia na guerra... não sei escrever submerso, não gosto de me expressar com uma faca no peito. Mas graças à memória, volto são e salvo das batalhas da vida e puxo o bloco. Lá sim saem coisas... mais apaixonadas do que apaixonantes... minhas e até suas, que passou por mim e nem se deu conta, mas eu me dei... Minha caligrafia não é boa na montanha russa. Não consigo segurar papel e caneta em queda livre... mas hoje tô aqui. E permanecerei.

20.2.08

Reverência aos obstáculos

Agradecimentos a todos que me decepcionam
me obrigam, assim
a mudar de rumo e pegar a estrada da felicidade novamente...

aos que me impedem de entrar em sua vida
e via de regra me protegem de toneladas de falsidade
montanhas de insensibilidade
séculos de futilidade

que me fazem chorar
lágimas que agora correm amargas
saram e lavam a visão do inferno que seria... seria...
mas não é... obrigado!

obrigado a Deus por prover minha resiliência
invisível aos olhos ardidos de quem só vê podridão
graças por não perder a consciência quando ouço palavras duras
que me obrigam a ser feliz...

18.2.08

esperei a vida toda
o que dizer quando te encontrasse
gargarejos, semitons...
e agora que está aqui
somente meus olhos...
somente meus olhos...
somente meus olhos...
És forte...
só tu consegue me transportar do presente
aos momentos em que estivemos juntos
as dificuldades de diluir
ao ponto da insignificância
é a vontade de te ter
em todos os ponteiros do relógio...

10.2.08

A nova espera

Enquanto aguarda
aproveita para ser sincero consigo
encanta-se com tudo à volta
prega o olho atencioso
despede-se da vida de mendigo
toma posse da própria existência
vive...

vive...

vive...

espera...

mas floreia, perfuma, enxerga e saboreia...

A velha espera

Havia tempos em que a espera corroía
noites claras como o dia
apreensão, aceleração, deglutição bem mal feita
vinte e quatro, quarenta e oito, setenta e duas horas recheadas
com rigorosamente nada... nada...

Uma espera cansativa, incômoda, tensa
apreensiva, angustiante, afobada
17h, 17h01, 17h02, 17h03... ... ... ... ... ... ... ...

Cabelos arrancados, unhas que acabaram lá no primeiro verso
desatenção, descaso, descontrole, desinformação, desfiguração
da manhã, da tarde e da noite
...

Estrofes apressadas, frases ridículas
Um "prá ontem" que só um vê
e jura que entende
e sufoca-se aos poucos
desperdiça cartuchos vitais
presenteia o vento...

9.2.08

Barreiras, barragem, muros ll...

...separam as terras
aprisionam as almas
as boas e as ruins
grades, jardins
muros, sonhos
construídos para destruir
solidificar
pena que corações
proteger
de viver
muros e grades
metal, espírito
solidão...

Barreiras, barragem, muros...

Grades lá fora
aqui dentro muros
não os construí
foram os vizinhos
pintei-os de várias cores
talvez assim revisse o horizonte
mas continuam sendo muros
transpostos somente pelo imaginário
graças...

Inquieto soneto

Viro o bloco de ponta-cabeça
pensando no ângulo
de desenhar o meu amor
antes que ela adormeça

me abraça
eu quero ser poeta
esmago mais uma folha
de ilusões, sonhos, sonolências

devagar te quero aqui
na minha escrita
na minha folha de bloco

tua aura está impressa
nos meus momentos
no meu agora.

Plim

Assimetria da minha face
do meu canto
do canto da minha boca
que assobiava e anunciava
toda vez que te via
e ainda hoje...

Comentário

Às vezes intitulo, às vezes não.
Acho que nem tudo precisa ser anunciado, assim como nem todas as coisas precisam ser verbalizadas para passarem a ser verdades. A verdade é algo absolutamente subjetivo, mas tem momentos em que torço para que a minha seja a do outro e vice-versa. Quando a verdade é comum não dá briga. Mas quando é muito comum, poxa... prá quê, então? Às vezes é bom... às vezes não...
Banco, branco
lascado, encardido
descansa sóbrio, chova ou derreta...
envelhecido
pela ação do tempo ou talvez pelo cansaço de sustentar bundas reclamonas
com a função original de... "descansadouro" descansa quando estamos descansados...

não é poesia
é a descrição do assento do banco branco, lá do pátio...

18.1.08

credo, que solidão...

desde que te vi, há mil anos não me bastava te ver
todos os conceitos errados foram acertados
e os certos amassados e lixo...

todo abraço tímido era apertado
todas as vírgulas eram lidas
a maçã do rosto quando ria...

tudo foi-se
e no momento o som do vilino
me pede prá deixar o recinto
tornando mecânico o ato da desilusão...

me parece que não tenho onde agarrar
pois tu não está mais
não desencarnou nem deixou de falar
só não fala a mesma língua...

e o sentimento continua sendo sentimento
o gramado escapou debaixo da bola
o chão saiu de cena
o cenário força prá trocar...
mas o sentimento continua falando...

esta passagem merece uma parada, pois tratou-se de amor,
assim como muitas das outras... e mesmo que não seja
continua sendo...

1.1.08

Dia primeiro

A vida no primeiro do ano
sonolenta, cotidiana
votos, desejos, uvas e lentilhas... sete ondas
hoje começa a prática