20.2.08

Reverência aos obstáculos

Agradecimentos a todos que me decepcionam
me obrigam, assim
a mudar de rumo e pegar a estrada da felicidade novamente...

aos que me impedem de entrar em sua vida
e via de regra me protegem de toneladas de falsidade
montanhas de insensibilidade
séculos de futilidade

que me fazem chorar
lágimas que agora correm amargas
saram e lavam a visão do inferno que seria... seria...
mas não é... obrigado!

obrigado a Deus por prover minha resiliência
invisível aos olhos ardidos de quem só vê podridão
graças por não perder a consciência quando ouço palavras duras
que me obrigam a ser feliz...

18.2.08

esperei a vida toda
o que dizer quando te encontrasse
gargarejos, semitons...
e agora que está aqui
somente meus olhos...
somente meus olhos...
somente meus olhos...
És forte...
só tu consegue me transportar do presente
aos momentos em que estivemos juntos
as dificuldades de diluir
ao ponto da insignificância
é a vontade de te ter
em todos os ponteiros do relógio...

10.2.08

A nova espera

Enquanto aguarda
aproveita para ser sincero consigo
encanta-se com tudo à volta
prega o olho atencioso
despede-se da vida de mendigo
toma posse da própria existência
vive...

vive...

vive...

espera...

mas floreia, perfuma, enxerga e saboreia...

A velha espera

Havia tempos em que a espera corroía
noites claras como o dia
apreensão, aceleração, deglutição bem mal feita
vinte e quatro, quarenta e oito, setenta e duas horas recheadas
com rigorosamente nada... nada...

Uma espera cansativa, incômoda, tensa
apreensiva, angustiante, afobada
17h, 17h01, 17h02, 17h03... ... ... ... ... ... ... ...

Cabelos arrancados, unhas que acabaram lá no primeiro verso
desatenção, descaso, descontrole, desinformação, desfiguração
da manhã, da tarde e da noite
...

Estrofes apressadas, frases ridículas
Um "prá ontem" que só um vê
e jura que entende
e sufoca-se aos poucos
desperdiça cartuchos vitais
presenteia o vento...

9.2.08

Barreiras, barragem, muros ll...

...separam as terras
aprisionam as almas
as boas e as ruins
grades, jardins
muros, sonhos
construídos para destruir
solidificar
pena que corações
proteger
de viver
muros e grades
metal, espírito
solidão...

Barreiras, barragem, muros...

Grades lá fora
aqui dentro muros
não os construí
foram os vizinhos
pintei-os de várias cores
talvez assim revisse o horizonte
mas continuam sendo muros
transpostos somente pelo imaginário
graças...

Inquieto soneto

Viro o bloco de ponta-cabeça
pensando no ângulo
de desenhar o meu amor
antes que ela adormeça

me abraça
eu quero ser poeta
esmago mais uma folha
de ilusões, sonhos, sonolências

devagar te quero aqui
na minha escrita
na minha folha de bloco

tua aura está impressa
nos meus momentos
no meu agora.

Plim

Assimetria da minha face
do meu canto
do canto da minha boca
que assobiava e anunciava
toda vez que te via
e ainda hoje...

Comentário

Às vezes intitulo, às vezes não.
Acho que nem tudo precisa ser anunciado, assim como nem todas as coisas precisam ser verbalizadas para passarem a ser verdades. A verdade é algo absolutamente subjetivo, mas tem momentos em que torço para que a minha seja a do outro e vice-versa. Quando a verdade é comum não dá briga. Mas quando é muito comum, poxa... prá quê, então? Às vezes é bom... às vezes não...
Banco, branco
lascado, encardido
descansa sóbrio, chova ou derreta...
envelhecido
pela ação do tempo ou talvez pelo cansaço de sustentar bundas reclamonas
com a função original de... "descansadouro" descansa quando estamos descansados...

não é poesia
é a descrição do assento do banco branco, lá do pátio...